25.7.06

Santa Teresa dos Detalhes > Capa




Dedicatória

Dada a data, 25 de Julho, dedico este livri
aos motoristas, por muito das minhas origens, e
aos escritores, com algum pretenso futuro nisso...

Preâmbulo Perambulante

Este trabalho é conseqüência da premiação destas fotos como “Melhor Ensaio” no Rally Fotográfico, organização de Renan Cepeda, durante o I Festival de Inverno de Santa Teresa, agosto de 1997.
O desafio do rally consistia em fazer as 36 poses de um filme, apenas um, em um período de pouco mais de 24h. Coisa que hoje, com as digitais, não faz o menor sentido...
A decisão de participar vinha da Semana de Portas Abertas de maio de 1997, quando a criatividade se espalhou pelos trilhos, numa das mais afetuosas e espontâneas manifestações culturais do Rio. Para um carioca andarilho, sempre provisório habitante de obras e engarrafamentos, que, por isso, faz do Pão-de-Açúcar e do Corcovado suas âncoras visuais, infiltrar-se por Santa Teresa, entrar nos sonhos e nas casas dos artistas, era uma brisa leve, uma música suave, uma paisagem impressionista... E ainda um retorno a antigos prazeres de outras épocas, de outras convivências com o bairro e suas figuras.


As fotos
Nada de ser displicente, cada foto era absolutamente necessária... A opção não foi por um tema (dentro da variedade visual do bairro), mas, por um modo, uma maneira de fotografar.
A paisagem, já bastante reconhecível (tão magnética que leva à predominância de fotos gerais, paisagísticas, genéricas), pensei fazer de pano-de-fundo, de referência. Apenas uma aparência, uma, até, vaga lembrança...
Então, procurar para o primeiro plano um detalhe, uma textura, uma curiosidade. Melhor ainda, uma pessoa... Em suma, mostrar Santa Teresa pelos seus detalhes. O que inverte a visão habitual da predominância da paisagem e das construções, na qual o detalhe entra apenas como... detalhe.
Para sustentar a proposta, usei basicamente a lente 20mm, o que é, reconheço, um privilégio (mas, poderia ser uma outra grande angular e se manteria o espírito). Levei ainda uma tele 135mm, pois nem todos os detalhes preferem ser tão acessíveis assim... Era intenção não ter muitas alternativas de equipamento, para não dispersar... E quanto mais leve se está, mais fácil fotografar.
Ao partir para um foco muito próximo sobre parte mínima das coisas, seria importante a referência, a localização, a informação de que estávamos em Santa Teresa. Para isso, o segundo plano, mesmo desfocado, precisava ser reconhecível o mais imediatamente possível. Algumas paisagens são óbvias, mas, se o fundo da foto fosse o interior de uma loja, por exemplo, que fosse uma das mais representativas, típica de um bairro de tão longa história. Nessa situação, o moderno não existe!
Esta parecia uma seriíssima restrição a ser displicentemente desconsiderada diante de uma cena de rua, uma bela fachada, um horizonte bem recortado... Por outro lado, a longo tempo vinha eu trabalhando como preenchedor da visão alheia, como cumpridor de tarefas mais ou menos interessantes (mais para menos...), fazendo o habitual, o esperado, o morno... Boa oportunidade para eu mesmo definir os parâmetros. E cumprir.

Também, nada tão rígido assim... Até porque o tempo era curto, mas o prazer era prioritário. O exercício de procurar soluções dentro das restrições não podia virar um esforço, um estorvo, e, sim, continuar uma diversão. Objetivo: fazer bem o trabalho, produzir uma “obra” pessoal, à minha maneira. Como qualquer um deveria fazer, à sua maneira...

Leia a continuação, Posfácio Estabilizante, no final deste livri, na Contra-Capa.

E, agora, leia/veja Santa Teresa dos Detalhes

foto # 1A > Chão

Um mar de detalhes
emaranhados ao chão.
E fitas além...


Chão em pedras portuguesas do Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, bem no miolo de Santa Teresa, local de distribuição dos filmes para o Rally Fotográfico, 10 hs da manhã de domingo, 17 de agosto de 1997.
O fotografar começa, então, sem qualquer método... Essa é aquela foto que se faz por acaso, logo após colocar o filme na máquina. É um acidente, não é, ainda, parte do trabalho.
Mas permite reflexões... Simplesmente não existiria, se fosse uma máquina automática: o filme passaria até a posição da primeira foto sem qualquer registro externo.
O fato é que todo fotógrafo vai acumulando, em pontas de filmes, essas fotos eventuais, que incluem muito chão e alguns sapatos. Selecionadas, poderiam formar um ensaio, talvez “Minhas Andanças Fotográficas”... [Uma chance perdida, depois das câmeras digitais...]
O importante é saber que, em fotografia, como na vida, creio, é bom estar atento aos acasos...

foto # 2A > Arcadas

Brota, esparso, o hoje,
arcando com o passado
que azuleja à sombra...



Filme na máquina, a primeira reação é fotografar já!
Do outro lado da Monte Alegre, um casarão bem tradicional, azulejos azuis na fachada, janelas em arco, estátuas no beiral... 

Segundo a placa, a antiga Chácara do Viegas, construída em 1860, com azulejos de 1873.
Comecei a sentir a dificuldade que teria para achar o detalhe certo para o primeiro plano de cada imagem...
Dificuldades de acesso, mudanças forçadas do ângulo de visão, desvios de perspectiva, muitas coisas podiam dificultar esta escolha. Também é fácil perceber que é preciso tomar cuidado com a relação de volume entre estes dois planos tão distintos na foto.
As pontas da grade seriam boa opção, mas estavam altas demais. O galho, cheio de brotos, estes sim, recentíssimos, acabou sendo a alternativa. Mas se diluía contra um fundo muito variado e estava muito distante. Na ansiedade, até o horizonte caiu para um dos lados...
A luz, as cores e o clima geral deram à imagem um tom agradável. Um começo apenas razoável...

foto # 3A > Consideração

Cai fora de si
em sonhos inacessíveis,

sóbria dor de ser...


Não conseguia me concentrar. Nem tinha muita certeza sobre o que fazer...
Hora de tomar um cafezinho. Procurando, fui parar na padaria da Rua Oriente. Vejo a figura sentada no vão da porta, a cabeça torta, apoiada na mão, dormindo seu sono encharcado...
Nessas horas sente-se uma mistura de poder e pudor. Uma boa foto teria que ser feita bem de perto, era só agir... Mas acordá-lo, seria imperdoável.
E constrangedor: o assunto não pertence necessariamente ao fotógrafo. O bom é que haja um conluio, um acordo tácito, uma consciência mútua, quando se considera o prazer....
Mas, tinha que ser feita!... Quando se usa a fotografia como meio de expressão pessoal, a partir de um certo ponto certas fotos não podem deixar de ser feitas, mesmo que nem sejam úteis depois. E’ uma necessidade...
A solução teve um pouco da estética da covardia e um pouco da arte da compreensão: fotografar pelas costas, sem permitir que a situação se alterasse, em reverência ao direito de cada um ser o que é, e viver o seu momento.
Muito o que fazer, nada de começar o dia com uma séria questão diplomática, um bate-boca de rua, um sofrimento desnecessário.
Talvez, até, sem o cafezinho...

foto # 4A > Volteios

Quanto à perspectiva,
cabe, da explosão ao abismo,
dúvida barroca?


Então, um reencontro com o passado, perto da padaria.
Vejo a entrada de um prédio antigo, que já admirara anos atrás, típico de Santa Teresa, dos que crescem para baixo, em subsolos e subsubsolos.
Paredes gastas, rabiscos... Esse lugar me fascinava porque, além da escada descendo, a construção ao nível da rua passa por cima do vão, forma um arco sobre ele.
Abaixo a escuridão e a passagem estreita, acima a obstrução e o estouro da luz. E um silêncio, como se jamais alguém tivesse passado por ali...
Fiel às limitações autoassumidas, dei foco na grade do portão e estas curvas banais vieram evocar em mim grandes questões estéticas, visuais, existenciais, entranhadas, sei lá, neste pequeno pedaço de mundo humano, nesse corte analítico de sociedades, nessa autópsia de civilizações...

Claro que só pensei nisso tudo depois...

foto # 5A e 6A > Luzes

À luz da clareza:
mais luz acima de luz
luz na consciência?


Depois dessa experiência quase existencialista, andar um pouco, olhar solto...
Numa esquina de rua Áurea, um pequenino largo triangular, boa visão do casario ao alto, em destaque
 o prédio branco de janelas vermelhas.
Até que vi a lâmpada acesa!... O inusitado é a motivação mais fundamental em uma foto, seja um lance rápido de rua ou uma milionária produção publicitária. Uma lâmpada acesa, quase ao meio-dia, num dia solar como aquele, era, no mínimo, um enigma...
Nem sempre a situação-surpresa tem correspondência visual ou têm-se tempo ou chance de registrá-la. A qualquer momento algo estranho pode estar acontecendo e não ser traduzível numa imagem-síntese. Mas, uma foto especial, que vire fonte de infindáveis elucubrações, pode surgir a partir de uma situação completamente banal...
Talvez seja esse o principal ofício do fotógrafo (ou de qualquer um que se proponha artista): levantar as possibilidades ocultas do cotidiano e do normal, e proporcionar novos deslumbres a quem conheça seu trabalho.
E que o espectador exerça seu papel e que
 sentem os dois, juntinhos, à frente dessa inapagável fogueira e fiquem olhando as labaredas e os brilhos da arte...

fotos # 7A > Armazém

Amadurecer
requer armazenamento,
alimento à mente...




Um bom exemplo de que, às vezes, é necessário recompor a realidade. Ou, ao menos, a situação que você quer transformar em fotografia...
Vi o homem lendo jornal, sentado num banquinho, apoiado na geladeira de sorvetes, exercendo sua tranqüilidade na porta do armazém absolutamente tradicional da esquina das ruas Áurea e Monte Alegre, na curva mais fechada da linha do bonde Paula Mattos.
A foto estava pronta, era só fazer. O problema surgiu quando me abaixei à sua frente para ampliar o interior do armazém no fundo da imagem. Meu surpreendido modelo, para não atrapalhar (ou talvez fugindo), recuou o corpo e tirou o jornal da minha frente.
Ficamos constrangidos. Mantive a máquina no rosto, olhando o impasse pelo visor, e disse:
- Pode deixar como estava...
Levou um tempo até abaixar o jornal, mas continuou com o corpo jogado para trás, tentando ficar fora da imagem. Completei:
- Pode ficar lendo, normal...
Outro tempo e quase dava pra ler seus pensamentos, a decisão sendo tomada, silencioso, recuado, me olhando...
Finalmente, voltou a se concentrar na leitura e deixei de existir.
Fotografei aliviado...

foto # 8A > Tramas

O sol se apresenta,
superando muros, teias
e a trama das sombras.


Andando, procurando, entrei na rua Teresina, vindo da Pascoal Carlos Magno, atraído pela grande árvore acima do muro rosa, no terreno da esquina. Mais uma foto definida!
Copas de árvore me atraem. Devem atrair qualquer um, talvez sugira algum tipo de aconchego primordial, alguma reminiscência das origens... Ou, quem sabe, apenas um bom lugar pra descansar dos agitados tempos de agora. Como também devia ser bom em tempos de antanho...
Passei a circular, buscando um ângulo geral, vendo as construções à volta (lá ao fundo, mais um castelinho...), escolhendo algum detalhe, dentro da proposta geral.
Aos poucos, fui mudando minha opção, me interessando pelo muro coberto de hera. A foto estava, então, definida, exceto pelo sol que se metia entre as folhas e vinha invadir o visor da máquina. Uma situação muito comum, muitas vezes decepcionante. Sabia que precisava administrar o volume dessa invasão, se queria aproveitar a foto.
Um pára-sol na lente, ajudaria. Mas, quem costuma ter um à mão, quando está simplesmente se divertindo?
O jeito é se mover milimetricamente e escolher com cuidado o quanto de raios de sol deve ficar visível no visor. Prender a respiração e, suavemente, apertar o disparador...

foto # 9A > Alvo

No alvo a travessia.
Pese ou prenda um fardo,
seguir à frente, com fé.




Fui à procura de um outro lugar conhecido, uma loja de artesanato na Felipe dos Santos, quase esquina da Pascoal Carlos Magno, perto do largo dos Guimarães.
Estava lá o detalhe, uma rede de juta disponível, pendurada na porta da rua para chamar a atenção dos clientes. O fundo da imagem também era previsto, um pequeno prédio pintado de branco, do outro lado da rua. Tudo certo, uma foto fácil...
De repente, um elemento novo: dentro da loja, três freiras!
Uau!... Pode não ter nenhum significado transcendental, mas, a figura de uma freirinha, com seu quase esvoaçante hábito branco, numa cena de rua bucólica de Santa Teresa, estava completamente dentro do contexto. Era só esperar que saíssem...
E assim passei meus próximos dez a quinze minutos: agachado, o enquadramento e o foco feitos. Adultos e crianças passando por mim, e nada das freirinhas!
Mas, quando a primeira delas saiu, a bolsa na mão, olhando para o lado certo, criando uma área contrastante de branco contra o fundo azul, senti que valeu a pena o exercício de paciência.E não há fotógrafo, que se preze, que não faça da paciência um de seus mais úteis equipamentos...

foto # 10A > Modelo

Supimpa alegria!
Martela a graça das artes
príncipe presença.


De repente, vejo a velha senhora pregando um cartaz (do próprio Festival de Inverno) no muro, martelo na mão, bem ao lado da loja de artesanato.
Imperdível! A mão e o martelo faziam o detalhe e ela, em si, era uma evidente presença de Santa Teresa. Nem a conhecia, mas foi imediata essa certeza...
Tentei ser rápido, para não desmanchar a imagem (nem conferi a fotometragem, devo ter aberto um ponto em relação à foto anterior). Mas, como me abaixar e enquadrar sem desviar sua atenção?
Não duvidar, fazer!...
Veio o melhor: em vez de recuar, como eu temia, ela simplesmente manteve o gesto. Ainda fez uma pose, olhando o infinito, acima de mim, abrindo um ligeiro sorriso lisonjeado. Fotografei, surpreso mas contente...
É que somos todos modelos! Ser fotografado é ser considerado, ser acariciado. Ou, pelo menos, reconhecido. Algumas vezes, pode ser péssimo, uma invasão, uma covardia, não chego a dizer um crime... Outras, uma alegria, um refrigério. A indiferença é que não tem mais lugar...
E ela soube usufruir de seu fotograma de fama, tanto quanto eu de envolvê-la no instantâneo desse abraço.
Restou-nos, apenas, ficarmos mutuamente gratos...

foto # 11A > Dedos

À ponta dos dedos,
a comunhão entre os homens
se faz na harmonia.


Voltei ao Centro Cultural. Um grupo apresentava seriíssimas, belíssimas músicas de Bártok.
O sol cada vez mais perto dos músicos na varanda, o público na sombra do pátio. Um momento registrável, mas visualmente confuso. Dei uma volta por dentro do prédio e, pelos bastidores, cruzei até o outro lado. Não mudou nada. Resolvi aproveitar a participação de um amigo que tocava, radiante, a sua guitarra.
Passando por fios, tripés e caixas de som, consegui me abaixar, silencioso, a seu lado. Trocamos um sorriso, sem interferências. A idéia era ter no primeiro plano a mão e as cordas. Ao mesmo tempo, enquadrar as colunas da varanda e, se possível, o público.
Não dava para dirigir a cena, sequer se mexer muito. Fundamental evitar acrescentar à música o som de alguma coisa sendo derrubada!... Necessário tomar cuidado com seu cotovelo, no caso de um acorde mais vibrante...
Ficaria melhor se ele girasse o corpo um pouco pra direita e desse pra pegar a parte da frente da guitarra e um pouco da platéia. O som estava perfeito, a foto é que não ficou bem afinadinha...

foto # 12A > Parada

Parada no ponto.
Fixo e movente se enfrentam:
onde o motorneiro?...


À luta!
Chega de solenidades, vamos às ruas pegar um pouco mais da cor local.
Fui para a área do largo dos Guimarães, centro energético de Santa Teresa, buscando alguma coisa... Quando analisava as possibilidades de usar o prédio da Região Administrativa (ainda sem uma opção para o primeiro plano), veio o bonde e, muito gentil, se ofereceu à minha frente...
O bonde, ah, o bonde... Claro (tinha eu racionalizado previamente), o bonde não poderia faltar em pelo menos um terço das fotos programadas... De repente, para exatamente à minha frente quando o complemento da imagem já estava escolhido!
Foi só apertar o disparador da máquina. Até porque nem tinha muito tempo pra pensar. Olhei pra trás: muita gente descendo, confuso e rápido demais. Olhando de novo na direção da Região Administrativa, lá estava a ambientação geral, com a coluna lateral dianteira do bonde a meio metro do meu olho.
Bastava incluir os comandos, enquanto o motorneiro conferia os passageiros, para que todo um relacionamento histórico entre o bonde e o bairro pudesse ser sugerido.
Teria sido bom expor um pouco a mais, para ter o interior do bonde mais visível, mesmo estourando a luz externa. Coisa que um bom laboratorista [hoje, um bom programa de computação gráfica] poderia suavizar.
Fotografia sempre implica em alguma forma de negociação...

foto # 13A > Cabeça

Firmes e aferrados
estabelecem o imóvel.
A vida é que passa...


Na rua do Aqueduto, paralela à Alte. Alexandrino em um nível acima, teria, a princípio, uma visão geral do largo dos Guimarães.
Logo um bom detalhe me esperando na balaustrada, no corrimão de ferro fundido, que a altura é de quase três metros e não há calçada. Atentei de imediato para o contraste entre este bloco de ferro e o bloco de cimento do prédio ao fundo. Isso, na perspectiva de uma grande angular, que diminui dramaticamente o objeto, quão mais distante ele esteja.
Disfarçadamente, precisava esconder uns elementos coloridos que desviam a atenção, como lixeiras cor-de-abóbora... O objeto em primeiro plano serve muito bem para isso, é uma das melhores maneiras de falsificar os fatos numa foto...
Como se chamaria essa “coisa”?... Pontão, cabeça?
... Talvez tenhamos aí um exemplo de absoluto domínio da imagem sobre a palavra...
O fato é que não se faz literatura com o que não se conhece. E melhor literatura faz quem mais conviveu com seu tema, em tempo ou intensidade. Idem para a fotografia: quanto mais se sabe de um assunto, de uma tarefa, melhor o resultado. O que pode mudar essa equação, é claro, chama-se talento...
No caso, questões de luz e seus contrastes. Num contraluz forte como esse, mantido o enquadramento, ideal seria suavizá-lo com um rebatimento, uma superfície branca ao lado da máquina que devolveria um pouco da luz do sol sobre a sombra do capitel (lembrei!...). Na prática, na hora, nas circunstâncias, não se pode ter tudo...
Em contraponto meio mágico, no momento exato da foto entra o carro, de uma cor até apropriada. Fica pela metade, com uma grande área de sombra, tornando mais estranha e intrigante a imagem. E passa alguém junto ao prédio.
São bem chegados... Sem eles seria outra foto. Mas, essa, é a que é.

foto # 14A > Trilho

Bifurca o caminho,
gasta a trilha e se divide,
mas chega a um bom lugar.


Hora dos trilhos. Tal como bondes e casario, os trilhos são elemento gráfico fundamental no visual de Santa Teresa.
São independentes dos bondes, têm sua própria presença, riscando as ruas, destacando a luz, brilhando em contra-luzes, sempre mantendo presente o infinito, as paralelas e a distância... 

Tinham que entrar como detalhe, não apenas como parte da paisagem.
O jeito era enquadrá-los muito de perto. Necessário colocar a máquina junto ao chão, mantê-la bem posicionada, fazer o foco pela distância, adivinhar o melhor ângulo, usar uma leitura de exposição geral e cruzar os dedos. Ou melhor, não cruzar e segurar firme...
Uma situação em que não há como usar o visor. Poderia cair na ridícula condição de deitar no chão, no meio da Alte. Alexandrino, procurando o melhor enquadramento, fazer o foco e bater a foto e ainda sobreviver, sem que um carro ou, para ser mais folclórico, um bonde me... argh!, nem pensar!... Às vezes vale mais um pouco de bom senso...
Numa foto ideal, talvez devesse descer mais o primeiro plano, para aumentar a presença dos trilhos e diminuir o espaço do céu. Por uma daquelas sortes de fotógrafo (também vendida, por alguns, como genialidade...), a vegetação lateral e o ‘V’ invertido da fiação do bonde ficaram exatos para dar o tom inesperado de surpresa (mas também de equilíbrio) à imagem.

foto # 15A > Mares

Impõe, reta e ângulo,
pesada, a presença humana.
Que desequilibra...


Mais uma vez, o chão.
Mais uma imagem pré-escolhida. Uma pequena ladeira, rua Correa de Sá, esquina da Alte. Alexandrino, encontro da Santa Cristina e da Cândido Mendes, quase em frente ao Bar do Arnaudo.
Uma ladeira que sempre me atraiu por causa da casa angulosa, facetada, ao alto, parecendo a proa de um velho navio que chegou ao porto e, por não saber, continua tentando avançar contra o horizonte...
No chão, como ondas vigorosas, a inconstância de pedras mal cortadas, paralelepípedos rugosos e mal arrumados, como se estivéssemos todos balouçando, navegando pelas colinas de Santa Teresa.
Mais uma vez, uma fotografia suposta. Sem deitar ao chão (até porque dois garotões atrás de mim poderiam “armar” alguma...), posicionar a máquina o mais exatamente possível e, claro, contar com um pouco de sorte.
Apesar do balanço das ondas, algumas referências visuais (o poste, os muros) ajudam a manter o horizonte na paralela à base da foto, garantindo certa estabilidade para quem a vê. 

Muitas vezes, este é quem mais precisa...
Afinal, ninguém quer soçobrar nas águas rasas deste mar...

foto # 16A > Ataque

Se nada se move,
assusta o tempo o presságio
de um salto felino.



De repente, desde o meio da rua, vejo o gato lá dentro da farmácia de dona Catarina, disseram, um pouco abaixo do largo dos Guimarães, na Alte. Alexandrino [hoje, um restaurante].
Ambiente marcante: as velhas prateleiras, o desgastado balcão cheio de espelhos, a sensação de que o tempo passou à revelia. E a senhora, solícita, a postos atrás do balcão.
E no primeiro plano, que bom!, um gato (aliás, uma velha tradição do comércio...), pachorrentamente deitado no meio do chão da velha farmácia. Tinha que ser rápido: não tinha nenhuma sardinha para o cachê!
Medi a luz geral, que era baixa (o que implicava em ser cuidadoso para não tremer), marquei o foco, e meio que invadi a farmácia, me abaixando, sorrindo para a dona Catarina, de olho no gato... Que, a essa altura dos movimentos, também estava de olhos bem abertos em mim.
Na foto, já se vê uma pata em movimento. Evidente que essa aproximação repentina foi tomada como um tipo qualquer de ataque, sua reação foi rápida...
Só peguei o susto. O gato, nunca mais vi...

foto # 17A > Sorriso

Observado o mundo,
sorri (nos olhos, na boca)
um gosto de calma.




Hora de variar, mudar de área. 
Seria fácil fazer todas as fotos no mesmo lugar... A fotografia, o seu olhar, tem possibilidades infinitas. Procura-se por uma boa imagem e ela aparece!
Tratava-se de resumir o bairro em apenas um filme. Sem ser contraditório, e para resumir, seria preciso ampliar, generalizar a visão. Lembrei então do Zulu, personagem habitual na esquina da Dias de Barros com a ladeira de Santa Teresa, ponto de concentração do Bloco das Carmelitas no carnaval.
Lá estava ele, conversando e bebendo umas, instalado na mesinha na calçada, ao lado do bar-armazém da esquina. Um golinho de cerveja:
- Vamos tirar uma foto?
- Qual é?
- É pro Rally.
- Legal!
Haveria detalhe mais significativo, mais pertinente, do que seu próprio rosto, evasivo e intrigado? Um meio sorriso, um olhar de soslaio...
O fundo podia ser comum e universal. Mas, ao mesmo tempo, absolutamente local: exatamente um domingo de manhã, entre amigos, numa rua de Santa Teresa.
Assim é fácil...

foto # 18A > Símbolos

Da glória dos céus
escorre lívido sangue:
voz de sacrifícios.



Estando ali, tinha que ir ao Convento das Carmelitas, ladeira de Santa Teresa abaixo, a caminho dos pés dos Arcos da Lapa. Uma construção destacada, para quem olha do centro da cidade. Tinha que entrar na minha lista...
Lá perto a coisa não era tão fácil... Cercado por muros e grades altos e espessos, sem possibilidade de acesso àquela hora do dia, o enquadramento ficava prejudicado, porque, na medida em que me afastava, mais descia na ladeira... O muro parecia aumentar, ia encobrindo o prédio, só visível, portanto, numa faixa de poucos metros na rua.
A menos que entrasse na casa de alguém, o único primeiro plano era o poste. Ainda bem que era perfeito para o que eu queria! Ainda mais com aquela mancha de tinta escorrida, sangrando...
É impossível não fazer alguma associação simbólica, e cada um faça a sua... O branco do prédio antigo, o branco subentendido do hábito das religiosas, o branco da mancha sobre a ferrugem do velho poste, sua lâmpada branca fazendo um gesto de aproximação (ou aflição?) para o Convento e, mais que tudo, o branco da luz do sol sobrepondo-se aos nossos pequenos e múltiplos dramas e pretensões...
Aí, para evitar a invasão do contraluz na lente tão aberta, entrou minha mão no cantinho da imagem, como uma nuvem escura de preocupação...
Quanto à foto, deu pra ficar satisfeito...

fotos # 19A e # 20A > Segurança

Se é estática a alma,
não vê que o mundo revira,
nem sabe se é gente...

Outro lugar que me interessava era o histórico Teatro Duce, que funcionara na casa de Pascoal Carlos Magno, na curva da rua Hermenegildo de Barros, em frente à praça Glauce Rocha. À sua frente, outra casa marcante, a do próprio senador Hermenegildo de Barros, tudo isto podendo ser conferido nas placas...
O mais interessante, como detalhe, era uma das pequenas estátuas do muro ou do teto, peças que, aliás, são muito comum em tantas casas de Santa Teresa. Mais um motivo para ter seu destaque.
Estas eram acessíveis, bastava subir no muro... Não era uma tarefa das mais difíceis: usando dois paralelepípedos empilhados como apoio e um bom impulso de corpo, até servia como razoável exercício. Problema: convencer o segurança da necessidade absoluta desse esforço extemporâneo...
Demonstra a experiência: é melhor convencer o segurança! Há que contar com o fato de que as pessoas costumam se sentir solidárias a quem foge à mesmice, e ainda lhe dão chance de participar de estranhos eventos cujos fins são vagamente pressentidos ou especialmente imaginados...
Não só me deu a mão para subir no muro, como me segurou pela cintura, para que pudesse, inclinado para fora, colocar o rosto da estátua (o Outono) no lado direito da foto e a casa do velho Hermenegildo, ao fundo, à esquerda.
Dada a dificuldade, achei melhor fazer uma segunda foto, vertical, mas a primeira resolveu o problema...

foto # 21A > Manchas

Está a natureza
além da fortaleza humana,
que nela se espelha.

Dessa vez, a interferência de um trabalho em outro.
Uma vista da Dias de Barros, num trecho perto do Curvelo. Foto que fizera, com outra intenção, tempos atrás, basicamente por causa da similitude entre os dois cones, a torre do pequeno castelo, que fica na Cândido Mendes e pertence ao consulado da Alemanha, e o Pão-de-Açúcar, que fica no coração do povo...
Buscando soluções cômodas, resolvi repetir a foto...
Surgiram dois problemas. Primeiro, não tinha comigo a lente ideal, uma tele 200mm, pelo menos, para um enquadramento mais fechado. Além disso, o tempo passou, a folhagem cresceu, ficou impossível achar uma posição com os dois personagens totalmente visíveis. E apareceu ainda, sabe-se lá porque, um estouro de luz bem no centro da imagem...
O fato é que muitas vezes somos traídos pela própria falta de originalidade. O resultado costuma ser este: ruim e, ainda por cima, trabalhoso...

foto # 22A > Farpas

Fronteiras patéticas,
rasgos de um corpo sofrido

divisas da paz...

Uma das vistas mais angustiantes de Santa Teresa é a do centro da cidade.
O que são arranha-céus, enquanto nos desviamos da multidão nas ruas estreitas do centro histórico do Rio, passam a ser, vistos lá do alto, apenas
peças de um jogo de pesados bloquinhos de armar, uma brincadeira controlada por alguma força insensata que desfaz o horizonte ondulado dos morros e finca esta lógica retangular dos edifícios.
Enquanto isso, na subida de Santa Teresa, rua Joaquim Murtinho, a realidade é o casario desgastado, resistente, esgaravatado pelo tempo, carente de manutenção e de paciência, que o povo usufrui e sustenta da maneira que se lhe permite o pouco de cultura e o ainda menos de dinheiro...
O arame farpado é apenas sinal de limite entre vizinhos ou do esforço de conservação dos seus tanto quanto possíveis padrões de vida?... Ou a foto retrata a realidade brasileira, expõe a má distribuição de renda, exalta o bloqueio cultural, destaca a estanquização das classes sociais?... Ou o Brasil, de que o Rio de Janeiro sempre foi vitrine, fragmento e símbolo da trágica explosão dessas tragédias nacionais?
Santa Teresa, da miscelânea social e econômica que representa (e que lhe permea), ainda assim sustenta uma independência chorada e se agüenta num orgulho curtido. À custa e ao risco do áspero uso de algumas defesas...

foto # 23A > Passagens


Caminhos existem
na contra-mão do destino,
sabendo-se olhar...


Tinha que fazer uma foto do Curvelo, um dos pontos-chaves de Santa Teresa. Mais uma vez, a opção foi subir num muro...
Além de tradicional ponto de parada dos bondinhos com jeito de estação, ali chegam ladeiras vindas da Lapa e da Glória e dali a rua Joaquim Murtinho, que começa nos Arcos, passa a ser a Alte. Alexandrino, serpeando colina acima.
Esse era o caminho dos canos do aqueduto que abastecia o chafariz do largo da Carioca, passando pelos Arcos da Lapa (e lá se vão mais de dois séculos!). Passou a via de bondes e continua sendo a coluna vertebral do bairro (talvez necessitada, hoje em dia, de umas massagens...).
Há no Curvelo uma história que se adivinha e que não deve ter sido contada em grandes volumes e bravatas e discursos, mas em tantas conversas ao pé do ouvido, tantas confidências à espera do bonde, entre tantos goles de cerveja, à chuva, ao sol, por tantas pessoas comuns, desde os romeiros à capela de N.S. do Desterro ou os escravos fugitivos dos tempos coloniais, até os donos de chácaras, os funcionários públicos, estrangeiros, artistas e o povo em geral, até hoje... Sabe-se que é uma saga de resistência e criatividade.
A foto lembra que alguns caminhos podem parecer errados, proibidos, interditados, mas é possível que a história não seja bem assim, que esta seja uma alegoria ao desenrolar da história desse povo... É uma face freqüente, útil e perigosa da fotografia, a capacidade de criar ilusões, de complicar (ou sofisticar) o que é simples, de fazer da arte um engodo.
Tomou tempo esperar um carro que mostrasse o outro lado do caminho...O fato é que o Curvelo é ponto de chegada, ponto de partida, ponto de passagem... E os dramas são sempre passageiros, exceto o cobrador e o motorneiro...

foto # 24A > Reflexões

Firme, o indivíduo,
refletido no coletivo,
define sua imagem.

Às vezes, o que vale é a oportunidade. Queria fazer mais fotos dos bondes. Quando me dou conta, estava engarrafado na esquina de Monte Alegre e Pascoal Carlos Magno, com um deles vindo em minha direção...
Rapidamente percebi a chance: usar a mim mesmo no espelho do carro como detalhe, e o bonde, que ia dobrar à esquerda na esquina, como fundo-referência. Num átimo (que o bonde sabe ser rápido quando não estão no seu caminho...), registrei uma imagem cheia de possibilidades reflexivas, além da sugestão do uso de espelhos na fotografia...
Aliás, toda produção fotográfica poderia ser classificada pelo grau de interferência do fotógrafo. Desde os que parecem anjos invisíveis (e, portanto, não “aparecem” na foto); passando pelos que “recompõe” os fatos e a foto, meio que corrigindo o que foi alterado pela sua presença; até os que criam e transformam, fazendo uma nova realidade, espelho de sua mente (muitos acham que estes simplesmente mentem...).
Depende do objetivo (jornalístico, documental, artístico etc), pois cada um deles permite mais (ou menos) flexibilidade (ou fidelidade). Ou, da adequação entre a maneira de obter a foto e o objetivo. Ou, finalmente, da ocasião...
Não há lógica, ética ou estética, que esclareça esta questão, que será resolvida pelos resultados... O melhor critério talvez seja pesar o quanto esta presença se torna uma coisa “incômoda”, como um jogador de futebol que prende demais a bola ou um escritor que abusa de autorreferências, este tipo de coisa que parece estar começando a acontecer aqui, agora... 

Que ninguém se iniba. Ao contrário, que seja estímulo. Ainda se tem a velha alternativa de contar convincentemente uma história, de vender bem o seu peixe, como se poderia dizer nos botecos de Santa Teresa...

foto # 25A > Sonhos


Sonhos e castelos...
Ao longe, ficam mais leves,
quão árida a vida...


Ah, o Castelinho, aquele castelinho ali acima da rua Áurea, dominando a curva mais saliente da Alte. Alexandrino... É um ponto da paisagem de Santa Teresa tão evidente, tão provocador, que não há como evitar. E eu não tinha fotografado ainda...
Às vezes, deixa-se o óbvio, por ser óbvio, para depois, e, este depois pode passar a ser nunca. Numa reportagem, a ânsia de buscar o diferente, o inusitado, pode fazer com que esqueçamos que é preciso se apoiar em pontos básicos, que vão referenciar e, ao mesmo tempo, estruturar a informação.
Deu trabalho achar o melhor ponto de vista para ter o chamado Castelo Valentim ao fundo. Subi a rua Aprazível (que faz um grande arco acima, junto à montanha), tentando pegar uma visão lateral. Até circulei entre as mesas de um restaurante bem localizado, mas nada... 

Acabei chegando à outra ponta da Aprazível, esquina da própria Alte. Alexandrino. O Castelinho estava lá, perfeito, na proporção exata, mas, e o primeiro plano?...
Só o muro, com sua folhagem seca, parecia uma alternativa.
 Estava ótimo o jogo da luz estourada no muro com a sombra das árvores e do prédio, mas o detalhe, o galho seco, ficava alto demais. Não daria o efeito, imaginado, de tentáculos e presa...
Ficou expressivo, mas é daquelas fotos que quem fez, ainda que aplaudam, sabe não ter sido a ideal. Resta no fundo da mente uma imagem impossível, que só o fotógrafo viu. Não fez, mas nem por isto deixou de existir...
Nunca serão publicadas, nunca estarão numa exposição... Na verdade, nunca existirão. Mas, qualquer fotógrafo lhes dirá das maravilhosas fotografias que não fez.
E que o mundo (também ele, e só ele sabe...) perdeu.

foto # 26A > Estruturas

Alguma estrutura
sustenta o funcionamento
(por cima) dos fatos...

Estando eu na inescapável Alte. Alexandrino, num dos trechos em dois níveis, perto da esquina da rua Aarão Reis, chamou-me fortemente a atenção a proximidade, ao toque da mão, da fiação aérea do sistema elétrico do bondinho. Neste ponto, as colunas de fixação estão presas ao paredão e vão até a altura da mureta da parte de cima da rua.
Essa aparente inversão entre o que está acima e o que parece estar abaixo, tão filosófica, parecia me trazer uma nova percepção do mundo... É como se os fios e os cabos aéreos formassem uma teia ao nível dos olhos, parecendo caminhos que, se fôssemos nós algum tipo superior de aranha (em tamanho, ao menos), poderíamos usar. Para ir à padaria, no outro lado da rua, por exemplo...
Essas divagações só atrapalham, na hora. A fotografia pede (aliás, implica em) uma agilidade mental relacionada a padrões visuais tão introjetados, que nem sempre dá tempo para um raciocínio ou justificativa prévios, a não ser como forma de aproximação ao assunto.
Exceto, talvez, no caso dos lay-out das fotos publicitários, em que o fotógrafo como que “psicofotografa“ (se me permitem as forças mediúnicas...) o que alguém imaginou antes.
O que não quer dizer que tudo se resolva necessariamente de imediato ou da maneira ideal: o bondinho, que demorou uns dez minutos para aparecer, bem que poderia ter vindo na outra linha, ficaria bem mais visível ao sol...

foto # 27A > Sacrifícios

Do lado de cá
sofrimentos. E depois,
uma visão infinita?...

Hora do intervalo: um almoço árabe no largo do Machado me esperava e já passava das duas da tarde.
No caminho, um local, que sempre me atraiu o olhar, me pegou outra vez. Um prédio, numa curva radical da rua Júlio Ottoni, caminho da rua Alice, descida para Laranjeiras, um que é dividido por pilotis, ao nível da parte de cima da curva, em dois blocos. Entre eles se vê ao longe o Pão-de-Açúcar e a entrada da baía da Guanabara, como um painel pintado na parede do fundo da garagem...
Apesar da pressa (esta, sempre presente inimiga da perfeição), era uma foto imperdível. É também um bom exemplo de como as circunstâncias podem conspirar contra as melhores intenções...
Parei o carro meio atabalhoadamente, à frente de uma garagem. Chegou um morador, tive que voltar e mudar de lugar. O tempo passando, duas mulheres ali pertinho numa agitada e animada conversa de domingo. Eu procurando, impaciente, um primeiro plano que me servisse de base. Nada, a não ser, por sobre toda a mureta, aquela plantinha espinhenta, chamada (puxando por lembranças da infância...) “coroa-de-cristo”.
Então, que seja... Escolher um ramo florido, fazer a foto, sair rapidinho pra se livrar do blá-blá-blá... E se arrepender depois.
Depois... Depois é sempre fácil perceber que o contraste era muito forte. E que a atitude correta não seria aumentar a exposição, optando pela do primeiro plano, porque o fundo, é claro, iria “estourar”. A medida certa da luz era a do fundo e deveria, de algum modo, aumentar a luminosidade na plantinha, por rebatimento da luz do sol ou por um flash indireto ou suavizado, se eu estivesse usando um...
Mas a chance passou e a foto estava feita.

Mal feita...
Não se ganha sempre...

foto # 28A > Fé

A fé tem um pé
na riqueza dos caminhos.
O outro psimplifica...



Volto à noite, com minha solidária amiga Mônica Cox, e, antes de tudo, fomos assistir ao concerto do Trio Vista Alegre, flautas e violão clássico, na igreja matriz de Santa Teresa, rua Áurea. Um ambiente especial demais para que não se fizesse alguma imagem, mas o som suave e a platéia embevecida não permitiam muito malabarismo...
Tendo optado por não usar flash, a baixa luminosidade geral exigia manter a máquina firme para obter a mesma definição das fotos anteriores. Nessas horas, um tripé de bolso, que eu tinha, pode ser uma boa alternativa, desde que se encontre um ponto de apoio.
Esta, a dificuldade... Não havia uma janela ou mesa disponível (exceto o altar) e até os bancos da igreja (porque será?...) tinham o espaldar inclinado!
Dei duas ou três voltas pelos fundos, sem deixar de prestar atenção à música de Bach ou à versão para flautas de cantigas infantis, tentando (e não conseguindo) enxergar a solução.
Até que bati os olhos nas sandálias do rapaz sentado numa das últimas filas da igreja. Era isso: aproveitar a medição da luz ambiente, dar alguns passos silenciosos, se abaixar, por o tripé no chão na distância aparentemente certa, posicionar a câmara o mais rápida e cuidadosamente possível, acionar o temporizador (self-timer) e torcer para que o pé continuasse paradinho naquele mesmo lugar!
Passam lentos estes cinco segundos, mas, ufa!, está feita a foto...

foto # 29A > Contrastes

Espalham-se, alegres,
na noite, todos os sons
e o canto da lua...
Seguindo os sons do Festival de Inverno, fomos parar no terreiro de D. Célia, na rua Áurea, perto da esquina com a Monte Alegre, misto de boteco, boate e barracão, um lugar para descansar a alma e balançar o corpo...
Mais uma foto necessária. O enquadramento é que era difícil. Um grupo tocando sob um alpendre, mesas apertadas pelo resto do quintal, muita gente em pé pelas beiradas. E uma música contagiante dificultando a concentração...
Um dos poucos pontos fixos para o primeiro plano era o teclado, desde que tomasse cuidado com o cotovelo do tecladista... Ao mesmo tempo, incluir o ambiente, de forma a mostrar que ali estava acontecendo uma jazz section tropical.
Consegui me apropriar de um banco alto para apoiar a máquina, já instalada no mini-tripé. Mudei de lado umas três vezes, carregando o banco, brigando com as sutilezas da foto, até descobrir a lua lá no canto da imagem! 

Sem ela seria mais fácil, mas abandonar uma lua cheia, em plena noite musical de Santa Teresa?... Tudo isto, afinal, estava no visor, da forma possível, com todos seus contrastes, mesmo que eu nem conseguisse enxergar claramente... Tive ainda que usar o temporizador para evitar tremer, torcendo que o tecladista não viesse tocar à esquerda, nos graves, na hora exata do clique...

foto # 30A > Noturnas

Na noite a luz soma:
quem para, fica; quem passa
some à luz da noite.
De repente, vem um carro subindo a Monte Alegre e explodem os trilhos à luz dos faróis. Brilhou no fundo da alma!
Bela imagem, desde que usasse tripé e conseguisse um detalhe para o primeiro plano... Enquanto pensava no que fazer, fui buscar no carro um tripé comum, que usaria na altura mínima. Veio a idéia de pedir à minha amiga que pusesse a ponta do pé exatamente no meio da largura do trilho. Ficou com pose de quem acabara de comprar a linha...
Bastava esperar por outro carro. Corria o risco de errar, pela dificuldade de controlar o momento. Teria que usar o temporizador para evitar tremer, a exposição seria de um segundo. Basta ver como o casal à esquerda quase se desfaz pelo próprio movimento... E mais: e se o carro apagasse os faróis?
Deu tudo certo, saiu uma bela foto. Especialmente pela mistura da luz incandescente dos faróis, bem amarela, temperatura de cor muito baixa, e a das lâmpadas da rua, bastante esverdeada, seja lá qual for o tipo.
Nas fotos noturnas, uma das coisas mais interessantes é justamente a possibilidade de mixar diferentes tipos de luz, da natural, após o por-do-sol ou de madrugada, até a de um fósforo, quando se é firme e rápido o bastante. A preocupação é a medição da exposição, necessariamente longa. Esse fator, por outro lado, pode dar resultados quase impressionistas, às vezes surrealistas. Ainda mais, aproveitando o deslocamento das luzes durante a exposição ou o movimento da câmara na mão, sem tripé, para criar riscos, traços e sobreexposição de luzes.
Uma fotografia criativa e divertida, para quem não se importa de desperdiçar muitas, em troca de acertar em cheio de vez em quando...

foto # 31A > Pensata

Alguém, aqui, agora...
Depende de um gole de fé
a sorte da espera.

Pausa para o lazer: domingo à noite, inverno com calor de verão, vamos tomar um chope!
Fomos ao Largo das Neves, ao final da linha Paula Matos, lá onde o trilho faz a curva... Mas sem desperdiçar a ocasião, os olhos rastreando possibilidades.
Ao sentar numa mesinha para beliscar um aipim frito, num dos bares já tradicionais, tratei de escolher a mais perto da varandinha, para ter visão da praça e sua igrejinha iluminada lá ao fundo. Alguma coisa ia sair dali...
A idéia era juntar essas diferentes e contrastantes esferas: o interno (do bar) e o externo (da praça) e, ainda, o profano (do chope) e o sagrado (da igreja), se não parecer pretensioso demais... Eu, pelo menos, já ouvi explicações muito mais rebuscadas para algumas fotos muito mais simplórias...
No primeiro plano o copo de chope; ao fundo a igreja. À direita, Mônica, pensativa; à esquerda, a movimentada praça. Pena que já estava muito escuro... O sol se põe nessa direção e nessa hora as cores seriam outras. E daria equilíbrio ao contraste entre a luz do bar e a da igreja, em relação à da rua. No fim, uma questão de direção de arte: conseguir numa única foto, posada e parada, uma expressão natural. 

Algo solitária, mas tranqüila, até feliz...

foto # 32A > Confronto

Meio se ambienta,
avança a máquina da morte
e a dor silencia...


Segunda-feira, devolver o filme até 18hs. 
Volto a Santa Teresa no meio da tarde. Restam poucos fotogramas, eu tinha duas fotos já imaginadas.
A caminho de uma delas, vejo a árvore seca, seus galhos esgarçados, espalhados, atravessando acima de quase toda a largura da Alte. Alexandrino, perto da Escola Suíça.
Gosto de copas de árvores, tanto quanto sofro por árvores que perderam a copa... Na verdade, não parei para pensar por que razão aquela bela garota tinha se desesperado e desfolhado a alma, se descabelado em todas as direções sob aquele velho azul indiferente do céu... Talvez fosse a seca do inverno, talvez a poluição, talvez o rangido dos bondes, podia ser apenas uma característica da espécie...
Vi que tinha a base da foto e isso bastava. Aí, quem se desesperou fui eu, procurando o detalhe, que na verdade ia apenas coadjuvar aquela presença rascante ao pôr-do-sol.
Comecei pelo próprio tronco, grafitado e pichado, sofrido também. Mas, seria redundante. Tentei os muros, as grades: nada se encaixava. Até que encontrei a caminhonete, seu cano de descarga para o alto, recoberto por uma tela, apontando para a árvore. Senti sua atitude ameaçadora, seu desafio, sua pose de conquista...
Entendi que estava em pauta uma questão civilizatória: até onde iria o esforço humano no processo de superação da natureza, na tentativa de se afastar das raízes, na busca do abandono de suas origens, na ilusão de se transformar em um Deus ilusório?...
Depois de uma ridícula ginástica (minha amiga Rosana ficou rindo de longe), saiu o enquadramento possível da imagem.
Ficou ainda mais evidente o confrontamento dos inimigos...

foto # 33A > Atenções

Cuidado, atenção:
trânsito entre terra e céu,
via de mão dupla!


Uma das fotos, que já estava na cabeça, teria que incluir, não podia faltar, o Cristo do Corcovado, sempre visível a partir do largo do França.
Até que vi na esquina da rua Alte. Alexandrino com Júlio Koeler, a placa de “Atenção”. Mostrava um ônibus e um bonde, um passando pelo outro, indicando “mão dupla”. Um resumo exato de uma questão persistente em Santa Teresa, a convivência entre os dois transportes, assunto tão enferrujado quanto o poste que a sustentava...
O bonde, parte da personalidade do bairro, não consegue atender toda a demanda. O ônibus é uma espécie de invasor, mas sem ele o povo ficaria isolado no alto do morro. Assim, há anos, eles se excluem e se completam mutuamente. Aumentando a confusão, é cada vez maior o número de automóveis ziguezagueando pelas ruas e ladeiras.
E ali estava eu, na esquina, olhando para a placa alta demais para ser usada na foto... Neste momento, um caminhão de uma loja de eletrodomésticos para ao meu lado e vejo motorista e ajudante, nota fiscal na mão, tentando se orientar, para fazer, não sei bem, a entrega de um fogão ou geladeira.
Dou a dica, mas peço um favor... Gentil, como somos, o motorista dá ré e encosta o caminhão no meio-fio. O ajudante cede o lugar e eu posso, da cabine, fotografar a placa a poucos centímetros e, ao longe, o Corcovado.
Não perguntaram como, nem por quê, embora eu tenha me esforçado pra explicar...

fotos # 34A e 35A > Artes

Derrama do povo
(não cabe nas mãos de um só...)
a fonte das artes.

Outra foto pensada para o final. Queria que fosse homenagem aos artesãos, aos artistas, que Santa Teresa se transformou num agitado caldeirão criativo. Mas, queria, também, lembrar um outro caldeirão...
Procurei outra amiga, Márcia, moradora da Alte. Alexandrino próximo à Júlio Otoni, pintora e escultora, cada vez mais envolvida com cerâmicas. Propus uma foto dela bem de perto, usando seus escarificadores e espátulas, como uma espécie de síntese de todo este mundo artesão, de toda esta manifestação do universal pela tortuosa via do humano.
Fizemos e desfizemos sua sala, mesa sobre mesa, mesas junto à janela, panos e toalhas, instrumentos e cafezinhos, tentando controlar a imagem, que queria expressiva, apesar e graças às dificuldades do forte contra-luz da janela. Acabou valendo a segunda, a vertical, depois da desajeitada tentativa inicial.
Já o outro caldeirão, buliçoso, ficou ao fundo, não muito longe. De sua janela vê-se o morro dos Prazeres, uma das maiores favelas de Santa Teresa, uma outra face da moeda...
Crescendo a cidade, tantos (e outros tantos)
 se acomodaram, evitando os suplícios dos subúrbios, em suas nesgas e em seus flancos, e Santa Teresa mudou sua face, de precário paraíso pequeno-burguês a quase bairro-dormitório proletário, ao migrar das massas...
Hoje vive imersa na fragilidade dessa contradição, numa convivência entre classes meio divididas e meio solidárias.
Nó de difícil feição, a ser sempre desatado num jogo de harmonias possíveis pelos poderes oficiais e os alternativos...
Mais do que esta dicotomia, a valiosa e tradicional moeda tem, numa face, a ação individual, meticulosa, geradora de excelências, e, na outra, a expansão coletiva, desorganizada, perigosamente poluidora. Tanto no asfalto quanto no morro...

Emociona ver como as pessoas tornam (e sabem manter) real o equilíbrio.

foto # 36A > Tempo


A vida prossegue,
se aproxima de um limite.
Ao fundo, o eterno?...




Saímos da casa da Márcia e vejo, então, exatamente o horizonte que procurava, que se escondera à minha frente: uma vasta área de céu e o Corcovado ao fundo! E, mais uma vez, uma árvore seca e suas mãos nervosas... 
A imagem que eu ansiava. E que pedia, clamava que fosse fotografada. A foto final, afinal, ufa!...
E ainda, entrando em cena na outra calçada, a velhinha!
Uma daquelas velhinhas literárias, andando a passos de cágado, movida e arrastada por uma pesada carga de memórias... Uma velhinha que praticamente não ia, se deixava ir. Devia vir de um passado profundo e banal e passava ali, agora, décadas à frente de onde realmente estava...
Da sensação à ação!... Largo minhas amigas dentro do carro, me desvencilho do cinto de segurança, pego a máquina e atravesso a rua já conferindo a leitura da luz, apenas evitando ser atropelado...
Fui chegando perto e desacelerando... Nos últimos metros ia tão devagar, quase na ponta dos pés, que conseguia até conter a respiração. Era preciso todo o controle da situação. Sabia que a foto tinha que ser feita a quarenta centímetros de distância do rosto, mas sem tirá-la do seu mundo interior invisível, que eu sabia poder fazer revelar...
Cheguei muito devagarinho, mesmo em movimento, ao ponto exato: a seu lado, o enquadramento feito, a curva da montanha, a árvore angustiada...
E eu, com meu gesto mais zen, clique: fiz a foto...
E parei. Fiquei ali parado, esperando uma reação, o espanto, a fuga, o sorriso, alguma coisa...
Fiquei, respiração suspensa...
Nada. Aconteceu nada. Como um ser de outra dimensão, como um surto de imaginação, ela não estava ali, e continuou, solene, ínvia e ausente, seu caminho.
Fiquei (quantas existências?...) vendo sua despedida, ao longe, no tempo.
Além da memória, a fotografia...
Fim

Santa Teresa dos Detalhes > contracapa

[ continuação do Prefácio Perambulante...]

Posfácio Estabilizante

Faço, então, alguns comentários a cada foto, na ordem em que foram feitas, sobre como as coisas se desenvolveram. Sem pretensão de ensinar fotografia, muito menos ganhar concursos...
Comentar me parece bom. Sempre me interessei pelo lado não visível da nossa produção de fotógrafos. Pelo menos, sempre dá boas histórias para contar aos amigos... Onde o fotógrafo estava, como chegou lá, o que pretendia, quais foram os obstáculos, quanto de reflexo, quanto de produção. E outras questões embutidas ou pré-embutidas ou pós-observadas em cada foto... Para muitas pessoas isso tem algum fascínio, e não há porque fazer mistério. Não ser misterioso é o grande mistério: quantas casualidades já ganharam prêmios?... É mais um tempero acrescido ao sabor da imagem.
O texto
Talvez por ter sido a imprensa minha grande escola (ou será que por isso escolhi a imprensa?...), o fato é que imagem e texto são pra mim um casamento natural. Não que não curta a foto por si só, mas, se há uma legenda, uma informação geográfica, uma data (ou um poema, pra não ser factual e objetivo demais), é como se o presente viesse bem embrulhado, como se uma oportunidade não tivesse sido perdida...
E, aos poucos, das imagens, começaram a brotar palavras. E eu, a me empurrar no sentido de segurá-las e, como que, fixá-las, colá-las de volta, às imagens.
A imagem me dá o rumo, o caminho vai sendo pavimentado de palavras... A tal ponto, que não me vejo mais uma coisa que outra, fotógrafo ou comentarista (ou coisa que o valha), mas, um indisciplinado ser multidisciplinar. Porque um é necessidade imediata do outro. E ainda outros...
Daí esses textos, que é como me dou o direito de chamar, que, também como exercício de reverência à forma, contive no essencial do haicai, com suas contagens de sílabas e sua falsa falta de naturalidade... O que não deixa de ser também uma espécie de instantâneo fotográfico de uma idéia ou sentimento. É como se eu tivesse escolhido usar um certo tipo de lente...
E por baixo disso tudo, tão fundo como me é possível, uma miscelânea de emoções, que vão desde a memória da história sugerida, impregnada nas pedras e nas curvas de Santa Teresa, até o companheirismo de amigos (coadjuvantes em várias fotos ou idéias). E ainda o contato com figuras inesperadas de pessoas que surgem das calçadas ou o admirar-se com as luzes, os reflexos e os brilhos do dia ou da noite, nas ladeiras e nos trilhos. E, mais fundo ainda, questões antigas, atávicas ou adquiridas, como todos temos, que desgastam etc, mas ajudam...
Nada pretensioso. Não há fotos transcendentes nem textos inesquecíveis. Trata-se, apenas, de uma tímida ode às minúcias de Santa Teresa, esse lugar incomum, até mesmo para o Rio, que já é uma cidade bastante incomum... Não é demais que uma cidade dita Maravilhosa seja pontilhada de pequenas maravilhas, como as que surpreendem o carioca incauto, caso ele, um dia, ponha uma bermuda de gringo e empunhe o cetro fotográfico de turista casual.
Isso é coisa que Santa Teresa proporciona. Acho que até seus moradores se sentem meio turistas e olham à sua volta, vez por outra, a cada dia, como se dentro de um cotidiano viajante, eles mesmos personagens de suas próprias paisagens, enquanto passam os bondes, mudam as luzes e envelhecem as casas...
Foi com este prazer que fiz estas fotos, e tal... E é com o maior prazer que as divido, nesse pacote de sentimentos, com todos que pisarem nesse estribo, balançarem nessas curvas, se agarrarem aos balaústres...
Os haicais (no formato 5-7-5 sílabas) são pequenas fotografias das fotografias (e nem é minha esta boa definição), mas só quando lidos... Porque, ao serem feitos, exigem muito diferente esforço. Alguns até saem tão instantâneos e quentinhos, que só há que pegá-los com cuidado e surpresa. Já a maioria demanda trabalho até enjoado, um tal de escarafunchar a imagem, penteá-la em suas várias direções...
Mas é um direito de todos, como é um direito fazer a foto (ou ambos, no caso). E’ um exercício de síntese (outra coisa também não é a foto), que tem a vantagem de provocar um novo debruçar, uma nova convivência com o momento e a situação (e os sentimentos do momento e da situação) da foto.
Parece bom isso, numa época em que tudo é tão rapidamente feito e consumido, até mesmo o que cada um ousa produzir, autônomo. Isso de ter uma chance de voltar ao quando e onde surgiu a imagem e coar o que haja ali de palavra...
É um pouco sentimental, portanto, nada útil ou necessário à compreensão do que é visto. Mas, podem, às vezes felizmente, fazer até algum (ou mais) sentido(s).
Seja como for, nenhuma forma de reflexão (ouso propor...) deve ser desprezada, ao menos por quem a faz.
E que seja apreciável...

Aguinaldo Araújo Ramos

Setembro de 1997, revisado em Julho de 2006.



A publicação deste material na forma de livri corresponde a um considerável esforço do autor para publicá-lo como livro, à época.
Dados os custos de impressão de um livro com fotografias, tentou conseguir patrocínio, em especial junto aos próprios patrocinadores do Festival (até apelando a Santa Clara que clareasse certas mentes...), mas não resultou.
O próprio ato de receber o prêmio de “Melhor Ensaio” do Rally foi praticamente clandestino: faltou luz na hora, no Museu Benjamin Constant, e o prêmio, uma câmera Nikon (o que, ainda bem, não era pouco...), foi entregue na mais completa escuridão!...

>>> Circulação livri

Livri
O livro livre na Internet

(clique com o lado direito do mouse e escolha "abrir nova janela")
.
o primeiro livri, fotos e textos;
um poema-romance, em fotos e textos;
um passeio premiado pelo bairro mais charmoso do Rio;
incluindo o finalista do Contos do Rio/Prosa & Verso/O Globo, 2006;
incluindo o 5o. lugar no
XVI Concurso Nacional de Contos José Cândido de Carvalho, 2006;
com o conto vencedor do
Concurso Literário Teixeira e Souza (Cabo Frio-RJ, 2007).
a história do projeto de livro, fotos & textos;
-->
8 > Esses Sexos... para os que gostam de sexo e também para os que praticam.
. ---
Outras publicações na Internet > 

1 > Vida Lida 
o que leio da vida e o que lêem de mim

2 > A série A História bem na Foto,
com fotos e depoimentos
de grandes fotojornalistas brasileiros. 


3 > A Foto Histórica
(e suas histórias) no Brasil
 
Projeto contemplado com o
Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia - 2010

---
E as publicações em livro:

apresentando o livro "Apoena – o homem que enxerga longe

2 > Rio de Amores
livro de contos com dois bons e justos motivos:
o
amor
e o Rio de Janeiro

3 > O Jogo do Resta Um

Romance sócio-antropológico
quase histórico, pouco político,
meio filosófico, muito econômico

E, a partir de 2013, pela

4 > "2112 ...é o fim!"
O Brasil caindo nos crônicos contos de um futuro mal passado...    
(uma versão enxuta de Rio de Amores)
Reminiscências e elucubrações sobre a arte e a prática do fotojornalismo
--

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