25.7.06

foto # 22A > Farpas

Fronteiras patéticas,
rasgos de um corpo sofrido

divisas da paz...

Uma das vistas mais angustiantes de Santa Teresa é a do centro da cidade.
O que são arranha-céus, enquanto nos desviamos da multidão nas ruas estreitas do centro histórico do Rio, passam a ser, vistos lá do alto, apenas
peças de um jogo de pesados bloquinhos de armar, uma brincadeira controlada por alguma força insensata que desfaz o horizonte ondulado dos morros e finca esta lógica retangular dos edifícios.
Enquanto isso, na subida de Santa Teresa, rua Joaquim Murtinho, a realidade é o casario desgastado, resistente, esgaravatado pelo tempo, carente de manutenção e de paciência, que o povo usufrui e sustenta da maneira que se lhe permite o pouco de cultura e o ainda menos de dinheiro...
O arame farpado é apenas sinal de limite entre vizinhos ou do esforço de conservação dos seus tanto quanto possíveis padrões de vida?... Ou a foto retrata a realidade brasileira, expõe a má distribuição de renda, exalta o bloqueio cultural, destaca a estanquização das classes sociais?... Ou o Brasil, de que o Rio de Janeiro sempre foi vitrine, fragmento e símbolo da trágica explosão dessas tragédias nacionais?
Santa Teresa, da miscelânea social e econômica que representa (e que lhe permea), ainda assim sustenta uma independência chorada e se agüenta num orgulho curtido. À custa e ao risco do áspero uso de algumas defesas...