25.7.06

foto # 36A > Tempo


A vida prossegue,
se aproxima de um limite.
Ao fundo, o eterno?...




Saímos da casa da Márcia e vejo, então, exatamente o horizonte que procurava, que se escondera à minha frente: uma vasta área de céu e o Corcovado ao fundo! E, mais uma vez, uma árvore seca e suas mãos nervosas... 
A imagem que eu ansiava. E que pedia, clamava que fosse fotografada. A foto final, afinal, ufa!...
E ainda, entrando em cena na outra calçada, a velhinha!
Uma daquelas velhinhas literárias, andando a passos de cágado, movida e arrastada por uma pesada carga de memórias... Uma velhinha que praticamente não ia, se deixava ir. Devia vir de um passado profundo e banal e passava ali, agora, décadas à frente de onde realmente estava...
Da sensação à ação!... Largo minhas amigas dentro do carro, me desvencilho do cinto de segurança, pego a máquina e atravesso a rua já conferindo a leitura da luz, apenas evitando ser atropelado...
Fui chegando perto e desacelerando... Nos últimos metros ia tão devagar, quase na ponta dos pés, que conseguia até conter a respiração. Era preciso todo o controle da situação. Sabia que a foto tinha que ser feita a quarenta centímetros de distância do rosto, mas sem tirá-la do seu mundo interior invisível, que eu sabia poder fazer revelar...
Cheguei muito devagarinho, mesmo em movimento, ao ponto exato: a seu lado, o enquadramento feito, a curva da montanha, a árvore angustiada...
E eu, com meu gesto mais zen, clique: fiz a foto...
E parei. Fiquei ali parado, esperando uma reação, o espanto, a fuga, o sorriso, alguma coisa...
Fiquei, respiração suspensa...
Nada. Aconteceu nada. Como um ser de outra dimensão, como um surto de imaginação, ela não estava ali, e continuou, solene, ínvia e ausente, seu caminho.
Fiquei (quantas existências?...) vendo sua despedida, ao longe, no tempo.
Além da memória, a fotografia...
Fim