25.7.06

Preâmbulo Perambulante

Este trabalho é conseqüência da premiação destas fotos como “Melhor Ensaio” no Rally Fotográfico, organização de Renan Cepeda, durante o I Festival de Inverno de Santa Teresa, agosto de 1997.
O desafio do rally consistia em fazer as 36 poses de um filme, apenas um, em um período de pouco mais de 24h. Coisa que hoje, com as digitais, não faz o menor sentido...
A decisão de participar vinha da Semana de Portas Abertas de maio de 1997, quando a criatividade se espalhou pelos trilhos, numa das mais afetuosas e espontâneas manifestações culturais do Rio. Para um carioca andarilho, sempre provisório habitante de obras e engarrafamentos, que, por isso, faz do Pão-de-Açúcar e do Corcovado suas âncoras visuais, infiltrar-se por Santa Teresa, entrar nos sonhos e nas casas dos artistas, era uma brisa leve, uma música suave, uma paisagem impressionista... E ainda um retorno a antigos prazeres de outras épocas, de outras convivências com o bairro e suas figuras.


As fotos
Nada de ser displicente, cada foto era absolutamente necessária... A opção não foi por um tema (dentro da variedade visual do bairro), mas, por um modo, uma maneira de fotografar.
A paisagem, já bastante reconhecível (tão magnética que leva à predominância de fotos gerais, paisagísticas, genéricas), pensei fazer de pano-de-fundo, de referência. Apenas uma aparência, uma, até, vaga lembrança...
Então, procurar para o primeiro plano um detalhe, uma textura, uma curiosidade. Melhor ainda, uma pessoa... Em suma, mostrar Santa Teresa pelos seus detalhes. O que inverte a visão habitual da predominância da paisagem e das construções, na qual o detalhe entra apenas como... detalhe.
Para sustentar a proposta, usei basicamente a lente 20mm, o que é, reconheço, um privilégio (mas, poderia ser uma outra grande angular e se manteria o espírito). Levei ainda uma tele 135mm, pois nem todos os detalhes preferem ser tão acessíveis assim... Era intenção não ter muitas alternativas de equipamento, para não dispersar... E quanto mais leve se está, mais fácil fotografar.
Ao partir para um foco muito próximo sobre parte mínima das coisas, seria importante a referência, a localização, a informação de que estávamos em Santa Teresa. Para isso, o segundo plano, mesmo desfocado, precisava ser reconhecível o mais imediatamente possível. Algumas paisagens são óbvias, mas, se o fundo da foto fosse o interior de uma loja, por exemplo, que fosse uma das mais representativas, típica de um bairro de tão longa história. Nessa situação, o moderno não existe!
Esta parecia uma seriíssima restrição a ser displicentemente desconsiderada diante de uma cena de rua, uma bela fachada, um horizonte bem recortado... Por outro lado, a longo tempo vinha eu trabalhando como preenchedor da visão alheia, como cumpridor de tarefas mais ou menos interessantes (mais para menos...), fazendo o habitual, o esperado, o morno... Boa oportunidade para eu mesmo definir os parâmetros. E cumprir.

Também, nada tão rígido assim... Até porque o tempo era curto, mas o prazer era prioritário. O exercício de procurar soluções dentro das restrições não podia virar um esforço, um estorvo, e, sim, continuar uma diversão. Objetivo: fazer bem o trabalho, produzir uma “obra” pessoal, à minha maneira. Como qualquer um deveria fazer, à sua maneira...

Leia a continuação, Posfácio Estabilizante, no final deste livri, na Contra-Capa.

E, agora, leia/veja Santa Teresa dos Detalhes