foto # 3A > Consideração
em sonhos inacessíveis,
sóbria dor de ser...
Não conseguia me concentrar. Nem tinha muita certeza sobre o que fazer...
Hora de tomar um cafezinho. Procurando, fui parar na padaria da Rua Oriente. Vejo a figura sentada no vão da porta, a cabeça torta, apoiada na mão, dormindo seu sono encharcado...
Nessas horas sente-se uma mistura de poder e pudor. Uma boa foto teria que ser feita bem de perto, era só agir... Mas acordá-lo, seria imperdoável.
E constrangedor: o assunto não pertence necessariamente ao fotógrafo. O bom é que haja um conluio, um acordo tácito, uma consciência mútua, quando se considera o prazer....
Mas, tinha que ser feita!... Quando se usa a fotografia como meio de expressão pessoal, a partir de um certo ponto certas fotos não podem deixar de ser feitas, mesmo que nem sejam úteis depois. E’ uma necessidade...
A solução teve um pouco da estética da covardia e um pouco da arte da compreensão: fotografar pelas costas, sem permitir que a situação se alterasse, em reverência ao direito de cada um ser o que é, e viver o seu momento.
Muito o que fazer, nada de começar o dia com uma séria questão diplomática, um bate-boca de rua, um sofrimento desnecessário.
Talvez, até, sem o cafezinho...
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