25.7.06

fotos # 34A e 35A > Artes

Derrama do povo
(não cabe nas mãos de um só...)
a fonte das artes.

Outra foto pensada para o final. Queria que fosse homenagem aos artesãos, aos artistas, que Santa Teresa se transformou num agitado caldeirão criativo. Mas, queria, também, lembrar um outro caldeirão...
Procurei outra amiga, Márcia, moradora da Alte. Alexandrino próximo à Júlio Otoni, pintora e escultora, cada vez mais envolvida com cerâmicas. Propus uma foto dela bem de perto, usando seus escarificadores e espátulas, como uma espécie de síntese de todo este mundo artesão, de toda esta manifestação do universal pela tortuosa via do humano.
Fizemos e desfizemos sua sala, mesa sobre mesa, mesas junto à janela, panos e toalhas, instrumentos e cafezinhos, tentando controlar a imagem, que queria expressiva, apesar e graças às dificuldades do forte contra-luz da janela. Acabou valendo a segunda, a vertical, depois da desajeitada tentativa inicial.
Já o outro caldeirão, buliçoso, ficou ao fundo, não muito longe. De sua janela vê-se o morro dos Prazeres, uma das maiores favelas de Santa Teresa, uma outra face da moeda...
Crescendo a cidade, tantos (e outros tantos)
 se acomodaram, evitando os suplícios dos subúrbios, em suas nesgas e em seus flancos, e Santa Teresa mudou sua face, de precário paraíso pequeno-burguês a quase bairro-dormitório proletário, ao migrar das massas...
Hoje vive imersa na fragilidade dessa contradição, numa convivência entre classes meio divididas e meio solidárias.
Nó de difícil feição, a ser sempre desatado num jogo de harmonias possíveis pelos poderes oficiais e os alternativos...
Mais do que esta dicotomia, a valiosa e tradicional moeda tem, numa face, a ação individual, meticulosa, geradora de excelências, e, na outra, a expansão coletiva, desorganizada, perigosamente poluidora. Tanto no asfalto quanto no morro...

Emociona ver como as pessoas tornam (e sabem manter) real o equilíbrio.